Os especialistas e o público
Resumo
A crise financeira internacional, iniciada em 2007 nos EUA, não foi prevista pela larga maioria dos especialistas. O Brexit e a vitória de Donald Trump apanharam de surpresa muitos líderes de opinião. Este tipo de acontecimentos levanta questões importantes, como a efetiva capacidade de previsão dos especialistas. Alguns autores veem o espectro do populismo a pairar sobre o Ocidente. Em contraposição, o elitismo, uma espécie de populismo virado do avesso, parece ganhar um novo fôlego. Seja como for, vivemos numa época em que não abunda a fé na humanidade. Assistimos a um regresso em força do discurso sobre as massas ignorantes, irresponsáveis e irracionais, agora à solta pelas redes sociais. Partindo de um conjunto de autores que analisaram a relação entre os especialistas e o público, pretendemos responder às seguintes questões: (1) Numa sociedade democrática, até que ponto os especialistas podem contribuir para uma melhoria, por um lado, dos métodos e condições da discussão pública e, por outro, dos processos de deliberação e decisão política? (2) em que condições e circunstâncias as previsões dos especialistas podem ser mais fiáveis do que as emoções e intuições do público?
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