O triunfo da Acção: projectar a “reconquista cristã”

Autores

  • Maria do Carmo Piçarra ICNOVA-FCSH / UAL

Palavras-chave:

cinema de propaganda, SPN/SNI, Acção Católica, Salazar Diniz, A revolução de Maio, António Ferro

Resumo

A instrumentalização do cinema pelo Estado Novo foi feita pelo SPN/SNI e, embora não tenha sido imediata, teve grande impacto na produção cinematográfica portuguesa da época. Além da produção documental e de actualidades filmadas de propaganda, houve investimento em ficção nacionalista e/ou de propaganda explícita do regime autoritário, que António Ferro relevou ao fazer o balanço da acção do secretariado com que projectou a “política do espírito” que arquitectou. Esta produção cinematográfica de propaganda foi apresentada através do Cinema do Povo, rebaptizado como Cinema Ambulante do secretariado.
Nesse contexto, qual a importância e de que modo é exemplar a produção, pelo SPN, de A Manifestação da Acção Católica em Braga? Este artigo apresenta uma panorâmica da produção estatal de propaganda para analisar o modo como Braga foi filmado, em meados da década de 30, pelo cinema de propaganda. Detalha, através da análise fílmica, como a festa da Acção Católica, aí celebrada quando A revolução de Maio estreou, internalizou o espírito da época, mimetizando, à escala do país e com as limitações impostas pela falta de investimento e meios cinematográficos, o modelo de ordem alemão, correspondendo a uma paramilitarização dos comportamentos dos crentes, incitados à “reconquista cristã” pela Acção Católica.

Biografia Autor

Maria do Carmo Piçarra, ICNOVA-FCSH / UAL

Maria do Carmo Piçarra é professora assistente na Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora contratada no ICNOVA/FCSH. Com bolsa (2018-2020) da Fundação Oriente, investigou “Representações da ‘Ásia Portuguesa’ nos Arquivos Fílmicos”. É doutorada em Ciências da Comunicação, e, entre 2013-2018, desenvolveu a investigação pós-doutoral “‘Cinema Império’. Portugal, França e Inglaterra, representações do império no cinema”. É programadora de cinema e publicou, entre outros livros e artigos em revistas científicas, Projectar a ordem. Cinema do Povo e propaganda salazarista 1935 – 1954(2020), Azuis ultramarinos. Propaganda colonial e censura no cinema do Estado Novo” (2015) e Salazar vai ao cinemaI e II (2006, 2011). Coordenou, com Jorge António, a trilogia Angola, o nascimento de uma nação(2013, 2014, 2015) e, com Teresa Castro, (Re)Imagining African Independence. Film, Visual Arts and the Fall of the Portuguese Empire (2017).

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Publicado

2022-05-27

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Artigos