A neofeudalização da política mediatizada e a construção narrativa sobre a corrupção no Brasil
Palavras-chave:
corrupção, Dilma Rousseff, midiatização, narrativa, neofeudalização.Resumo
Este trabalho objetiva refletir como a construção narrativa sobre a corrupção, antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, no Brasil, em 2016, configurava o Partido dos Trabalhadores (PT) como o único e o mais corrupto do país, com o objetivo, em certa medida, de causar efeitos de sentido em seus leitores ao evidenciar que o fim da corrupção no Brasil dependeria da saída do partido do poder, portanto, da então presidente da República, considerada como conivente com as práticas duvidosas do seu partido. Como escopo de análise, foram selecio- nadas 6 edições de dois jornais brasileiros de grande circulação nacional, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, publicadas em dezembro de 2014. No diálogo teórico-metodológico, realizamos reflexões sobre a esfera pública, entendida como a arena de uso público da razão na busca de objetivo comum e de legitimidade de indivíduos e seus atos a partir de processos comunicacionais de mútuo consenso entre pares; sobre a midiatização, compreendida como a virtualização articulada de processos socioculturais pela mídia e a sua influência cada vez maior no funcionamento cotidiano das instituições sociais; e análise crítica da narrativa e da enunciação. A seleção dos jornais impressos se deu pela configuração de um lócus de produção e distribuição de discursos que passam a guiar, em determinadas situações, a interpretação, a explicação e a compreensão dos acontecimentos socioculturais, assim como dispositivos e ferramentas importantes para o estudo das transformações sociais e culturais da sociedade e de suas instituições na contemporaneidade. Como resultados apontamos as estratégias narrativas e enunciativas dos impressos brasileiros com o uso de ele- mentos linguísticos e extralinguísticos em seus jo- gos de convencimento jornalístico para construírem distorcidamente, seja por omissão ou por excesso, a imagem pública da presidente Dilma. Constatamos assim, que essa construção narrativa, na verdade, representa a neofeudalização da esfera pública do Brasil. Ou seja, por neofeudalização entendemos o estabelecimento de uma esfera pública em que, o poder público passa a se legitimar a partir de la bonne vo- lonté dos agentes políticos e, como extremo desse processo, da vontade dos donos dos meios de comunicação de massa. Neste sentido, a neofeudalização permitiu constatar duas realidades distintas na esfera política brasileira: a troca de favores entre o campo jornalístico e o campo político de um lado, e de outro, em relação aos interesses sociopolíticos envolvidos, a iniciativa, geralmente unilateral, do campo jornalístico de determinar ou definir os ritos normativos do campo político. Sendo assim, a neofeudalização revela-se um instrumento importante para entender os ritos narrativos e seus motivos na construção ou desconstrução da imagem pú-blica dos agentes políticos. Essa neofeudalização da política midiatizada determinou, em certa medida, o fortalecimento do processo do impeachment da ex-presidente deposta, Dilma Rousseff, através do processo de (des)construção e (res)significação narrativa de luta contra a corrupção no Brasil.
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