Narrativa cinematográfica e realismo indireto: para uma abordagem fenomenológica da narratividade

Autores

  • Filipe Martins IF-UP | ESMAD-IPP Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IF-UP) - Grupo de Investigação Estética, Política e Conhecimento. Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD - IPP) http://orcid.org/0000-0003-2399-1380

Palavras-chave:

cinema, real, espelho, narratividade, performatividade, autenticidade

Resumo

O cinema está intimamente ligado à performatividade, a qual tende a insinuar um afastamento do real. Mas o cinema também reclama uma relação estreita com o real, reconhecível, desde logo, na busca incessante do artista pela «autenticidade». Esta aparente contradição constitui, parece-nos, o cerne do problema estético.

Mas que real é este que o cinema procura? De que forma é que o real aparece implicado na experiência cinematográfica? A tradição realista que se firmou na teoria do cinema ao longo do século XX (com nomes como Kracauer, Bazin ou Deleuze) defende, geralmente, uma recusa da narrativa e uma valorização do imediatismo das imagens.

Neste artigo, partindo da análise dos conceitos de «narratividade» e «real», propomos uma reflexão crítica sobre a tese realista que relaciona a «autenticidade» do cinema com uma recusa da narratividade.

Biografia Autor

Filipe Martins, IF-UP | ESMAD-IPP Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (IF-UP) - Grupo de Investigação Estética, Política e Conhecimento. Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD - IPP)

Realizador e professor. Vive no Porto.

Doutor na especialidade de Semiótica Social pela Universidade do Minho (2014), com bolsa pela FCT. Mestre em Cultura Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa, 2005) e licenciado em Arte e Comunicação, ramo audiovisual (ESAP, 2002).

Investigador integrado no Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, no grupo de Investigação Estética, Política e Conhecimento. Publicou diversos artigos e participa regularmente em conferências e congressos académicos, com intervenções nas áreas da Semiologia, Narratologia, Estética e Estudos Fílmicos. Organizou o livro «Trajetos da Narratividade» (2017) e coorganizou os livros «Deslocações da Intimidade» (2015) e «Das Imagens Familiares» (2013). A sua tese de doutoramento está publicada pela editora Afrontamento com o título «Sentido Narrativo – Da Formatividade à Performatividade» (2016). Tem ainda dois livros de ficção editados: a coletânea de contos «Quatro Amanhãs» (1995) e o romance «Pontos de Vista» (2000).

Escreveu e realizou vários filmes de ficção, documentário e videodança, selecionados em dezenas de festivais internacionais. Recebeu o prémio de melhor realizador português com o filme «Untraceable Patterns» (InShadow 2012). A curta-metragem «Landing» (2016) recebeu os prémios de melhor filme português (Lisbon Internacional Film Festival), melhor estreia mundial em vídeo (Avanca) e menções especiais no festival Caminhos do Cinema Português (2016) e no Paisagens (2016).

Codiretor e programador do festival internacional de cinema Family Film Project, que ocorre anualmente no Porto desde 2012. Organizador de ciclos de conferências como o colóquio Narrativa, Média e Cognição (FLUP, 2016) e o Fórum do Cinema e Audiovisual (ESMAE, 2016). Programador de cinema do IRI 2017.

Professor adjunto convidado nos cursos de Mestrado e Licenciatura na Escola Superior de Media Artes e Design (ESMAD), sendo atualmente diretor do Mestrado em Comunicação Audiovisual. É também coordenador fundador da Pós-Graduação em Argumento na mesma escola.

Lecionou durante vários anos no Balleteatro, na Escola Superior Artística do Porto (ESAP) e na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) em áreas ligadas ao argumento, realização, interpretação e pós-produção cinematográfica.

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Publicado

2018-11-16