Farsa, carnavalização e cinismo no documentário brasileiro contemporâneo: o caso de Jesus no mundo maravilha
Palabras clave:
documentário, cinismo, subjetiva indireta livre, dialogismo e polifoniaResumen
Jesus no Mundo Maravilha e outras histórias da polícia brasileira aborda um tema sério, a violência policial, através da farsa. Essa combinação inusitada produziu diferentes análises por parte dos críticos, parte reconhecendo sua importância dentro do universo do documentário brasileiro e parte acusando o filme de defender cinicamente o que ele supostamente condena. A polêmica discussão em torno do filme foi o ponto de partida dessa pesquisa. Nas críticas nota-se o uso recorrente da expressão “cinismo”, para se referir ao filme. Em algumas delas, a expressão foi usada em seu sentido moderno, ou seja, o de uma “falsa consciência esclarecida”. A história do cinismo na filosofia mostra que essa expressão tem recebido vários sentidos de acordo com a época em que é utilizada. Desse modo a pesquisa foi formulada em torno do cinismo no filme. O cinismo do filme seria reflexo de uma mã consciência esclarecida, no sentido de que ele expõe os processos ideológicos, mas ainda assim os afirma, ou seria um herdeiro do cinismo que produziu a sátira menipeia, a bufonaria medieval e a vanguarda artística moderna e que nesse caso pretende confrontar o espectador com sua ideologia ao expor, sem tomar partido, os lados em conflito, colocando o espectador em uma situação de desconforto, que é a hipótese defendida por este trabalho. Para analisar o filme, foi adotada uma perspectiva que se baseia nos conceitos de dialogismo e polifonia desenvolvidos por Bakhtin e de subjetiva indireta livre conforme formulada por Pasolini em seu cinema de poesia, mais tarde ampliado pelos estudos de Gilles Deleuze em torno das potências do falso que mostra como o filme se estrutura em torno do diálogo entre posições antagônicas dos personagens.
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