Cine-grafias: O filme de arte poética como forma de documento subjectivo

Autores

  • Fátima Chinita Escola Superior de Teatro e Cinema - IPL Lisboa / ICNOVA

Palavras-chave:

metacinema, filme-ensaio, auto-retrato, autoficção, filme de arte poética, filme testamento.

Resumo

Naquilo que Laura Rascaroli (2009) designa como Cinema Subjectivo e Alain Bergala (1988) e Jean-Pierre Esquenazi e Alain Gardies (2006) apelidam de Cinema do Eu (2006) encontramos documentários metacinematográficos, simultaneamente (auto)reflexivos e sobre o cinema. Nesta categoria geral, o hibridismo formal e de conteúdo faz-se sentir sobretudo no Filme-ensaio e no Auto-retrato que mostram o cineasta como um profissional de cinema em plena actividade. Em ambos os casos existe auto-representação, sendo que o cineasta se interpreta a si mesmo com contornos autobiográficos. Em algumas situações derivadas destas podemos desaguar no Filme de Arte Poética, segundo Yannick Mouren (2009), que manifesta de modo autoconsciente e discursivo a práxis cinematográfica do artista; ou então no Filme Testamento, uma resenha artística do próprio criador em fim de carreira. O modo como estes conceitos e práticas se intersectam de forma cada vez mais híbrida, leva-me a defender o conceito de Cine-Grafias, formas cinematográficas de escrita, a um tempo expressivas e voltadas para o Eu do artista. A última longa-metragem de Jean Cocteau, Le Testament d’Orphée, ou ne me demandez pas pourquoi! (1960), será o estudo de caso em apreço, permitindo-me concluir que as cine-grafias são autênticos documentos, não obstante a sua relação com o real ser bastante duvidosa.

Biografia Autor

Fátima Chinita, Escola Superior de Teatro e Cinema - IPL Lisboa / ICNOVA

Professora Adjunta na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa.

Referências

Astruc, A. (1948 [1992]). Naissance d’une nouvelle avant-garde: la caméra-stylo. Du stylo à la caméra… et de la caméra au stylo: Écrits (1942-1984) (pp.. 324-336). Paris: Archipel.

Barthes, R. (1968). L’effet de réel. Communications 11. 84-89.

Bellour, R. (1988). Autoportraits. Communications 48. 327-387.

Benamou, C.L. (2006). The Artifice of Realism and the Lure of the “Real” in Orson Welles’ F for Fake and Other T(r)eas(u)er(e)s. In A. Juhasz e J. Kerner (eds), F of for Phony: Fake Documentary and the Truth’s Undoing (pp. 143-170). Minneapolis, London: University of Minnesota Press.

Bergala, A., ed. (1998). JE est un film. Saint-Sulpice-sur-Loire: Acor – Association des cinémas de l’Ouest pour la recherche.

Chinita, F. (2021). Metacinema as Authorial Enunciation: A Taxonomy of Hybrid Films. La furia umana 4, s/p.

Cocteau, J. (2003a [1973]). Du cinématographe. A. Bernard e C. Gauteur (eds). S/l: Éditions du Rocher.

Cocteau, J. (2003b [1973]). Entretiens sur le cinématographe. A. Bernard e C. Gauteur (eds). S/l: Éditions du Rocher.

Colonna, V. (1989). L’autofiction (essai sur la fictionalization de soi en Littérature). Tese de doutoramento, E.H.E.S.S - École des Hautes Études en Sciences Sociales.

Colonna, V. (2004). Autofictions & autres mythomanies littéraires. Auch : Tristam, 2004.

Corrigan, T. (2011). The Essay film: From Montaigne After Marker. Oxford and New York: Oxford University Press.

Dulac, G. (1926). Estética, Obstáculos e a Cinegrafia Integral. Originalmente em: L’Art cinématographique, vol. 2. Paris: Felix Alcan. Disponível em https://pt.scribd.com/document/486838837/Estetica-Obstaculos-e-Cinegrafia-Integral-Germaine-Dulac.

Esquenazi, J-P & Gardies, A. (2006). Le Je à l’écran. Paris: L’Harmattan.

Evans, A. B. Jean Cocteau and His Films of Orphic Identity. (1977). Philadephia: The Art Alliance Press; London: Associated University Press.

Gaudin, M. (2011). Le cinéaste exposé. Le personnage du metteur en scène chez les réalisateurs-acteurs de fiction: Kitano, Mograbi, Moretti, Moullet. Dissertação, ENS Louis Lumière, Paris. Obtido em https://www.ens-louis-lumiere.fr/fileadmin/recherche/Gaudin-cine2011-mem.pdf em 3 de Agosto de 2012. Actualmente indisponível.

Genette, G. (2004). Métalepse. De la figure à la fiction. Paris: Éditions du Seuil.

Grange, M-F. (2008). L’autoportrait en cinéma. Rennes: Presses Universitaires de Rennes.

Lejeune, P. (1996 [1975]. Le pacte autobiographique, nouvelle édition augmentée. Paris: Éditions du Seuil.

Lliandrat-Guigues, S. & Gagnebin, M., eds. (2004). L’essai et le cinéma. Seyssel: Éditions Champ Vallon.

Mouren, Y. (2009). Filmer la création cinématographique: Le film-art poétique. Paris: L’Harmattan.

Nichols, B. (2001). Introduction to Documentary. Bloomington, Indianapolis: Indiana University Press.

Rascaroli, L. (2009). The Personal Camera: Subjective Cinema and the Essay Film. London, New York: Wallflower Press.

Rodríguez, L.S. (2008). Una tinta de luz: La poesía cinematográfica de Jean Cocteau. Bilbao: Universidade del País Vasco.

Sayad. C. (2013). Performing Authorship: Self-inscription and Corporeality in the Cinema. London and New York: I.B. Tauris.

Tinel, Muriel. (2006). Cocteau, Wenders, Akerman, Kramer… Le cinéma et l’autoportrait, de l’expression de soi à l’expérience d’un support Hors Champ. S/p. Disponível em: https://horschamp.qc.ca/article/le-cinma-et-lautoportrait

Downloads

Publicado

2023-09-30