O Cinema de Pedro Almodóvar: uma Estética do Pós-Modernismo

Resumo

A partir da análise de Jean-François Lyotard em A Condição Pós-Moderna (1989, Gradiva) e de Gianni Vattimo em O Fim da Modernidade: Nihilismo e Hermenêutica na Cultura Pós-Moderna (1987, Presença), tentaremos compreender e aprofundar o conceito de pós-modernismo (e do conceito, não coincidente, de pós-modernidade), quando aplicado à análise de alguns procedimentos estéticos presentes no cinema de Pedro Almodóvar, recorrendo ainda ao contributo de outros pensadores como Jean Baudrillard (Simulacros e Simulação,1991, Relógio d´Água) e Gilles Lipovetsky (A Era do Vazio: Ensaio sobre o individualismo contemporâneo, 1989, Relógio d´Água). Encontramos muitas das características da cultura dita pós-moderna no seu cinema, como sejam a simulação e o artifício ou o fim do historicismo das chamadas "grandes narrativas" fundadoras da modernidade. A independência de Almodóvar das convenções dos filmes de Hollywood é paralela ao afastamento de algumas tendências dominantes no cinema  contemporâneo, à exceção de um ceticismo mais intelectual e europeu, marcado pela ironia e autorreflexão. Este metacinema, resultante da confluência dos filmes populares de Hollywood,em particular do melodrama (Jesús Rodríguez, Almodóvar y el melodrama de Hollywood: historia de una pasión, 2004), e de um cinema de autor ou poético mais artístico, valeu-lhe o epítote de "cineasta pós-moderno" (Jose Luis Sánchez Noriega, Universo Almodóvar. Estetica de la pasión en un cineasta posmoderno, 2007) na contemporaneidade, com uma estética marcada pelo hibridismo das formas narrativas e das imagens (Pedro Poyato Sánchez, Identidad visual y forma narrativa en el drama cinematográfico de Pedro Almodóvar, 2015) e por uma clara distância crítica que as subverte e parodia (Linda Hutcheon, Uma Teoria da Paródia, 1989). A identidade nacional e de género, a sexualidade, a história, a política e as tradições culturais estão claramente articuladas como um tema, deslocadas pela subversão irónica do seu contexto original, mas servidas por uma estética particularmente espanhola que as reconfigura e universaliza. O marginal e a periferia passam a ser o novo centro, o pathos torna-se comédia e o seu cinema popular de autor transforma-se num êxito de público e de crítica e vencedor de Óscares.