A cobertura da morte de figuras públicas na imprensa portuguesa

Autores

  • Joana Martins Mota Instituto Politécnico de Viseu

Palavras-chave:

morte, notoriedade, espetacularização, tabloidização, pós-verdade

Resumo

A morte assume relevância do ponto de vista das narrativas mediáticas e, quando conjugada com a proeminência das personalidades envolvidas no acontecimento, confere maior peso à decisão do que pode ou não ser notícia. Neste trabalho propusemo-nos analisar a cobertura da morte de 20 personalidades públicas em três jornais diários portugueses: Correio da Manhã, Diário de Notícias e Jornal de Notícias. Escrutinámos o tratamento mediático que foi feito da morte de António de Oliveira Salazar, Fernando Pascoal das Neves, Francisco Sá Carneiro, Joaquim Agostinho, António Variações, José Afonso, Carlos Paião, Miguel Torga, Beatriz Costa, António de Spínola, Vítor Baptista, Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner, Álvaro Cunhal, José Megre, Raul Solnado, José Saramago, António Feio, Angélico Vieira e Eusébio da Silva Ferreira. Encontrámos tratamentos similares em alguns casos e coberturas diferenciadas em outros. Compreendemos que a morte enquanto disrupção e alteração no curso da vida é tanto mais mediatizada quanto maior foi o estatuto da personalidade que faleceu. Este estudo aponta não só no sentido da evolução das formas de tratamento dessa disrupção, como também invoca alguns mecanismos identificados nos jornais, concomitantes com a hiperconcorrência, a tendência para a espetacularização, a acentuação da tabloidização e com o fenómeno da pós-verdade. 

Referências

Albertos, J. L. (1974). Redaccion periodistica: los estilos y los generos en la prensa escrita. Barcelona: A.T.E.

Ariès, P. (2010). Sobre a história da morte no ocidente desde a Idade Média. Lisboa: Editorial Teorema.

Bourdieu, P. (1997). Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, Lda.

Brin, C.; Charron, J. & Bonville, J. (2004). Introduction. In B. Collete, J. Charron & J. Bonville, Nature et transformation du journalisme: théorie et researchs empiriques (pp. 1-33). Laval: Les Presses Universitaires de Laval.

Carey, J. (2009). A cultural approach to communication. Communication & media studies collec- tion revised edition, 2: 11-28.

Catroga, F. (1999). O céu da memória: cemitério romântico e o culto cívico dos mortos. Coimbra: Minerva.

Charron, J. & Bonville, J. (2004). Typologie historique des pratiques journalistiques. In B. Col- lete, J. Charron & J. Bonville, Nature et transformation du journalisme: théorie et researchs empiriques (pp. 141-217). Laval: Les Presses Universitaires de Laval.

Correio da Manhã. (14 de junho de 1984). António Variações é autopsiado hoje. Correio da Manhã, p. 12.

Correio da Manhã. (16 de abril de 1995). Adeus, meus meninos. Correio da Manhã, p. 34.

Correio da Manhã. (14 de junho de 2005). Álvaro Cunhal 1913-2005. Correio da Manhã, p. 1.

Correio da Manhã. (19 de junho de 2010). Estado paga avião no funeral do escritor. Correio da Manhã, p. 1.

Correio da Manhã. (31 de julho de 2010). Morte no dia de anos da filha. Correio da Manhã, p. 1. Correio da Manhã. (10 de janeiro de 2014). Benfica paga 15 000C/mês à viúva de Eusébio.

Correio da Manhã, p. 1. Dayan, D. & Katz, E. (2005). As construções do luto após a morte de Diana. Caleidoscópio: 65-68.

Debord, G. (2002). The society of the spectacle. Canberra: Treason Press.

Diário de Notícias. (14 de agosto de 1996). Morreu o símbolo da transição. Diário de Notícias, p. 1.

Diário de Notícias. (7 de outubro de 1999). Diário de Notícias, p. 1.

Diário de Notícias. (3 de julho de 2004). Sophia 1919-2004. Diário de Notícias, p. 1.

Diário de Notícias. (14 de junho de 2005). Diário de Notícias, p. 1.

Diário de Notícias. (6 de janeiro de 2014). Eusébio 1942-2014. Diário de Notícias, p. 1.

Durkin, K. (2003). Death, dying and the dead in popular culture. In C. Bryant, Handbook of death and dying (pp. 43-49). Londres: Sage Publications.

Elias, N. (1987). La soledad de los moribundos. Mexico: Fondo de Cultura Económica. Farinha, R. (6 de janeiro de 2014). Eusébio pediu robalo ao almoço mas já não comeu. Jornal de Notícias, p. 7.

Ferreira, A. (6 de janeiro de 2014). Eusébio património do mundo. Jornal de Notícias, p. 2.

Fidalgo, V. (13 de junho de 2004). Variações partiu há 20 anos. Correio da Manhã, p. 69.

Gabler, N. (2001). Toward a new definition of celebrity. Obtido em 26 de Agosto de 2016, de The Norman Lear Center: www.learcenter.org/pdf/Gabler.pdf

Galtung, J. & Ruge, M. H. (1965). The structure of foreign news. Journal of peace research, 2: 64-91.

Hanusch, F. (2008). Graphic death in the news media: present or absent?. Mortality, 13: 301-317. Hanusch, F. (2010). Representing death in the news: journalism, media and mortality. Hampshire:

Palgrave Macmillan. Jornal de Notícias. (16 de abril de 1996). Beatriz Costa - Morreu a menina de Lisboa. Jornal de

Notícias, p. 1. Jornal de Notícias. (14 de junho de 2005). Tudo o que faz o Verão subir a prumo chegou ao fim. Jornal de Notícias, p. 1.

Jornal de Notícias. (9 de agosto de 2009). Faz o favor de ser feliz. Jornal de Notícias, p. 1.

Jornal de Notícias. (19 de junho de 2010). A história acabou, não haverá mais nada que contar. Jornal de Notícias, p. 1.

Jornal de Notícias. (30 de junho de 2011). Angélico de branco em urna aberta. Jornal de Notícias, p. 1.

Lits, M. (1993). Édition spéciale: le roi est mort. In M. Lits, Le roi est mort. . . émotion et médias (pp. 13-24). Bruxelas: Éditions Vie Ouvrière.

Lits, M. (2001). Information, médias et récit médiatique . Belphégor, Littérature Populaire et Culture Médiatique, 1.1.

MacDonald, M. (2003). Exploring media discourse. Nova Iorque: Oxford University Press. Marcelino, J. (14 de junho de 2005). As mortes de Cunhal e do "companheiro"Vasco. Correio da Manhã, p. 27. Martins, M. L. (2011). Crise no castelo da cultura: das estrelas para os ecrãs. Coimbra: Grácio Editor.

Mesquita, M. (2002). Informação e espectáculo na luta entre a água e o fogo. Media & Jornalismo, 1: 113-139.

Mesquita, M. (2003). O quarto equívoco: o poder dos media na sociedade contemporânea. Coim- bra: Minerva.

Oliveira, M. (2005). Olhando a morte dos outros. Biblioteca Online de Ciências da Comunica- ção. Obtido em 27 de outubro de 2016 de: www.bocc.ubi.pt/pag/oliveira-madalena-olhando- morte-outros.pdf

Oliveira, M. (2008). Sensibilidade, mas com bom senso. Tratamento informativo da Dor. In M. Pinto & S. Marinho, Os media em Portugal nos primeiros cinco anos do século XXI (pp. 213-225). Porto: Campo de Letras.

Pacheco, E. (14 de junho de 2005). Vão ligá-lo ao comunismo e aos seus malefícios. Correio da Manhã, p. 27.

Patterson, T. E. (2003). Tendências do jornalismo contemporâneo: estarão as notícias leves e o jornalismo crítico a enfraquecer a democracia?. Media & Jornalismo, 2: 19-47.

Pereira, M. (9 de outubro de 1999). Até à eternidade. Correio da Manhã, p. 26.

Ramonet, I. (1999). A tirania da comunicação. Porto: Campo de Letras.

Raposo, L. (25 de agosto de 2014). Como viveu Portugal a morte de Salazar. Diário de Notícias.

Rojek, C. (2001). Celebrity. Londres: Reaktion Books lda.

Rowe, D. (2010). Tabloidization of news. In S. Allan, The routledge companion to news and journalism (pp. 350-361). Oxon: Routledge.

Santos, R. (2010). Do jornalismo aos media. Lisboa: Universidade Católica Editora.

Santos, R. (2011). Fãs e celebridades. Comunicação & cultura, 12: 11-20.

Schlesinger, P. (1977). Os jornalistas e a sua máquina do tempo. In N. Traquina, Jornalismo: questões, teorias e “estórias” (pp. 177-190). Lisboa: Vega.

Silva, M. A. (9 de outubro de 1999). Muitas vozes e palmas para uma voz insuperável. Diário de Notícias, p. 36.

Sparks, C. (2000). Introduction: the panic over tabloid news. In C. Sparks & J. Tulloch, Ta- bloid tales: global debates over media standards (pp. 1-40). Oxford: Rowman & Littlefield Publishers.

Traquina, N. (1993). Jornalismo: questões teorias e estórias. Lisboa: Vega.

Traquina, N. (2002). O que é jornalismo. Lisboa: Quimera Editores.

Tuchman, G. (1993). A objectividade como ritual estratégico. In N. Traquina, Jornalismo: ques- tões teorias e estórias (pp. 167-176). Lisboa: Vega.

Vargas Llosa, M. (2013). A civilização do espetáculo. Lisboa: Quetzal.

Walter, T. (2008). The sociology of death. Sociology compass, 2/1: 317-336.

Walter, T. (2015). Communication media and the dead: from the stone age to Facebook. Mortality: promoting the interdisciplinary study of death and dying, 20: 215-232.

Wolton, D. (1999). Pensar a comunicação. Algés: Difel.

Zelizer, B. (2010). About to die – how news images move the public. Nova Iorque: Oxford University Press.

Downloads

Publicado

2017-12-22